sexta-feira, 27 de maio de 2016

Estupro Coletivo, Ideologia de Gênero e Homofobia

Campanha da Dolce & Gabbana em que ficam explícitas
as posições típicas da sociedade patriarcal para homens e mulheres.
           
Pr. Alexandre Feitosa

Está havendo uma grande inversão acerca do que é a Ideologia de Gênero. Já expusemos em outros momentos que tal ideologia, pelo menos como é compreendida pelo senso comum cristão, simplesmente não existe! Entretanto, meditando melhor sobre tal expressão – que voltou à tona após a declaração de Ana Paula Valadão – constatamos que a Ideologia de Gênero realmente existe e está intimamente associada à mentalidade cristã, representada por evangélicos e católicos conservadores. Para entendermos melhor a questão, vejamos o que é ideologia:

Em um sentido amplo, genérico, ideologia significa tudo aquilo que seria ou é ideal, adequado, correto. Uma ideologia representa "um conjunto de ideias, pensamentos, doutrinas, ou visões de mundo de um indivíduo ou de determinado grupo, orientado para suas ações sociais e políticas." (www.significados.com.br/ideologia/).
           
Bem, após essa definição, as coisas começam a ficar mais claras. Os estudos sobre a sexualidade humana fizeram muitas descobertas a partir do século XIX: aprendemos que as pessoas possuem componentes que, juntos, formarão o que chamamos de constituição sexual: sexo biológico, orientação sexual (heterossexualidade, homossexualidade e bissexualidade) e identidade de gênero (sentimento de pertencimento ao gênero masculino ou feminino). Todos os seres humanos possuem esses componentes nas mais variadas combinações. Os estudos de gênero não prescrevem este ou aquele comportamento para homens e mulheres, apenas comprovam que certas condutas foram construídas socialmente, por exemplo: rosa é a cor das meninas e o azul é a cor dos meninos; meninas brincam de boneca, meninos brincam de carrinho; cabelo comprido é para mulheres, cabelo curto é para homens, saia é para mulheres, calça é para homens. Esse tipo de comportamento é considerado ideal para o que a sociologia e a filosofia chamam de ideologia conservadora, intimamente ligada às questões religiosas. Fugir dessas normas é transgredir não apenas leis morais, mas a lei de Deus! Cada pessoa deve comportar-se segundo o que se determinou socialmente como adequado e correto para seu sexo biológico. Isso é um tipo de ideologia, pois trabalha para perpetuar valores morais e comportamentais considerados corretos e ideais.
             
Na verdade, quem está pregando e disseminando uma ideologia dos gêneros é a igreja cristã institucional, que se tornou machista e misógina, considerando o homem superior à mulher, fixando comportamentos rígidos para um e outro sexo, aprisionando pessoas em padrões que Deus não estabeleceu, desrespeitando singularidades e violentando identidades.   
            
Se pararmos para pensar sobre o bárbaro episódio do qual foi vítima a adolescente de 16 anos no Rio de Janeiro, constataremos que se trata de uma demonstração da força física masculina sobre a fragilidade física feminina. Aquela garota foi usada e abusada sem nenhum tipo de consciência moral dos seus algozes. A violência sofrida por essa jovem, infelizmente, se repete todos os dias em nosso país e por todo o mundo. Os estupros coletivos nasceram da cultura patriarcal, machista e da misógina. Esse tipo de atrocidade revela outra faceta cruel da Ideologia de Gênero: a de que as mulheres merecem sofrer esse tipo de violência simplesmente por serem mulheres, porque são vaidosas (na mentalidade machista isso equivale e a serem oferecidas), atraindo, natural e intencionalmente, o desejo masculino. Dessa forma, justifica-se a violência. Não raro, em países como a Índia, a culpa pelo estupro recai sobre as mulheres.
            
O estupro coletivo de mulheres (e até de homens) não é algo da nossa geração. A Bíblia narra esse tipo de violência no livro de Juízes, capítulo 19. A vítima? Uma concubina, mulher (propriedade) de um levita – membro do sacerdócio judaico. A brutalidade foi tamanha que resultou na morte da mulher (Juízes 20.5). O mais chocante desse relato é que o alvo do estupro seria o levita, não a concubina. Não porque os estupradores fossem gays, mas porque queriam humilhar um homem estrangeiro e o sexo era a melhor forma para isso (esse episódio é análogo ao ocorrido em Sodoma). Entretanto, naquele contexto cultural, um estupro coletivo de uma mulher era encarado com certa naturalidade (Gênesis 19.8, Juízes 19.22-28). A mentalidade de que as mulheres eram bens, subordinadas às vontades masculinas, justificava que seus corpos fossem violados sem grandes prejuízos morais. Os eventos que decorreram reforçam essa ideia. Pela manhã, o levita, com muita naturalidade, ao ver a mulher caída, lhe diz: – Levanta-te e vamos (Juízes 19.28a). Entretanto, ao constatar sua morte, uma cena digna de um filme de horror é descrita: o levita esquarteja a mulher e espalha seus pedaços em Israel (Juízes 20.6). Brutal, certo? Sem dúvida! Porém, naquela sociedade, aquele gesto foi simbólico, pois a morte da mulher (não seu estupro) resultou na perda de um bem. Os homens de Israel se revoltam e atacam a cidade onde ocorrera o assassinato (Juízes 20.7-48). O estupro de um homem resultaria em desonra e humilhação extremas, pois o colocaria na posição de uma mulher. O estupro de uma mulher não alteraria em nada sua condição.
            
Isso explica muito acerca da homofobia, especialmente quando percebemos que os gays passivos ou efeminados sofrem mais preconceito que os gays cis-heteronormativos, ou seja, os gays ativos e viris, assemelhados aos homens heterossexuais. Gays passivos ou efeminados estão mais próximos do feminino enquanto que gays ativos e viris estão mais próximos do masculino, isso explica que a homofobia tem relação direta com o machismo e com a misoginia e, consequentemente, com a ideologia de gênero, já que esta prescreve o que é ideal ou não sobre comportamentos e papéis.  
             
Havia e há um padrão para as mulheres e para os homens, ainda que tais padrões não traduzam a vontade de Deus. A mulher ideal deve ser submissa, recatada (calada) permanecer casada mesmo quando traída, cuidar das tarefas domésticas e dos filhos. Mulheres independentes demais não são bem vistas pela igreja e pela sociedade conservadora. Sua existência tem um fim muito específico: servir ao homem e dar-lhe filhos. São resquícios do patriarcado já descrito.
            
Todas essas convenções culturais e sociais são reforçadas por interpretações descontextualizadas das Escrituras. Na alienação bíblica e teológica, a ideologia de gênero "cristã" enclausura pessoas, especialmente as mulheres, contrariando o princípio bíblico da liberdade para a qual Cristo nos libertou! (Gálatas 5.1).

            
E agora, José? Quem realmente tem insistido em impor uma ideologia dos gêneros? Talvez Ana Paula Valadão possa responder!

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