domingo, 22 de fevereiro de 2015

Transtornos Sexuais


Fracasso de crítica e sucesso de público, o filme 50 tons de Cinza divide opiniões e traz à tona uma importante discussão: os limites entre normalidade e transtornos sexuais. A história apresenta a relação entre a jovem Anastasia e o milionário Christian Grey,  adepto do sadismo. Aos poucos, ele a seduz, conduzindo-a ao seu submundo em que a dor, o sofrimento e a humilhação são elementos essenciais. O filme deixa nas entrelinhas que, em algum momento de sua vida, Grey adquiriu e alimentou seu transtorno. Alguns veem no filme, uma evidente apologia à submissão - ou melhor, à humilhação - da mulher, pois, ao glamourizar o relacionamento de Anastasia e Christian, a narrativa desperta o que há de mais selvagem e primitivo em muitas pessoas, estimulando-as à pratica do sadismo em todas as suas vertentes. Alguns casos mais sérios das consequências da prática do sadismo entre casais espectadores do filme vieram à tona após sua estreia. 
Afinal, a prática do sadismo é saudável ou requer tratamento e, consequentemente, cura? O artigo abaixo, extraído de nosso livro "O Prêmio do Amor" esclarece um pouco sobre os transtornos sexuais, conhecidos como parafilias. 


     Algumas atitudes e comportamentos frente ao sexo tendem a fugir completamente do convencional, a ponto de se tornarem obrigatórias para a plena satisfação sexual. Não há que se falar em sexualidade normal ou anormal. O melhor é se referir a atitudes mais comuns ou menos comuns. Entretanto, comportamentos muito distantes do considerado comum ou menos comum estão fora do socialmente aceito como “normal” e adquirem o status de desvios sexuais. O normal se associa ao que é estatisticamente usual.
Desviar-se do normal consiste em práticas específicas, de caráter único e exclusivo, para a promoção do prazer sexual. Ou seja, a satisfação só é alcançada mediante determinado contexto, o qual pode ser muito variado, indo do uso de determinados objetos a determinadas práticas, como a tortura, por exemplo. Nesse estágio, tais desvios se classificam como parafilias (do grego “para” de paralelo mais “filia”, amor, apego exagerado). As parafilias, então, são práticas não usuais, não convencionais, frequentemente denominadas como perversões sexuais. No Brasil e em outros países, a pedofilia, além de parafilia, é considerada crime.
           
Chama-se parafilia a atividade sexual na qual a resposta (desejo, excitação e orgasmo) ocorre normalmente; contudo, o indivíduo necessita, para obtenção da sua excitação, de um objeto ou práticas não usuais, não comuns para a sociedade; por fim, é considerado fisiologicamente normal. Existem diversas modalidades de parafilias e são consideradas práticas sexuais aceitas quando não provocam danos a outras pessoas ou aos costumes sociais.
O DSM.IV (classificação de transtornos mentais da Associação Americana de Psiquiatria) considera as parafilias como uma sexualidade caracterizada por impulsos sexuais muito intensos e recorrentes, por fantasias e/ou comportamentos não convencionais, capazes de criar alterações desfavoráveis na vida familiar, ocupacional e social das pessoas por seu caráter compulsivo. São perturbações sexuais qualitativas e, no CID 10 estão referidas como Transtornos da Preferência Sexual, o que não deixa de ser verdadeiro, já que essa denominação reflete o principal sintoma da parafilia. Está configurada a parafilia quando há necessidade de se substituir a atitude sexual convencional por qualquer outro tipo de expressão sexual, sendo a única forma preferida ou maneira de a pessoa conseguir excitar-se.
Algumas parafilias que necessitam de uma investigação profunda psiquiátrica e psicológica especializadas são: possibilidades de prazer com objetos, com o sofrimento e/ou humilhação de si próprio ou do parceiro, com o assédio a crianças e adolescentes, entre outras. Essas fantasias ou estímulos seriam requisitos indispensáveis para a excitação e o orgasmo. Essas eram consideradas perversões e hoje são chamadas de comportamentos desviantes que exigem tratamento.[1]
           
            Há um grande número de comportamentos parafílicos, denominados com nomes específicos. Uns são mais comuns (como o fetichismo, para o qual dedicamos um tópico), enquanto outros são um tanto raros e, frequentemente, chocantes para os padrões convencionais da sociedade. Vejamos uma pequena lista:

1 – Agalmatofilia: excitação sexual por meio do contato com estátuas;
2 – Amaurofilia: excitação sexual com um parceiro que não pode vê-lo (não se aplica a cegos);
3 – Asfixiofilia: prática em que se reduz, intencionalmente, a emissão de oxigênio para o cérebro durante o ato sexual com o intuito de aumentar o prazer do orgasmo;
4 – Coprofilia: excitação por meio de fezes durante o ato sexual;
5 – Emetofilia: excitação obtida com o ato de vomitar ou com o vômito de outro;
6 – Fist fuck ou fisting ou fist fucking: inserção da mão ou antebraço na vagina (brachio vaginal) ou no ânus (brachio procticus);
7 – Necrofilia: excitação sexual resultante da visão ou do contato com cadáver;
8 – Parcialismo: excitação sexual resultante da fixação por determinada parte do corpo. A podolatria (atração por pés) é um tipo de parcialismo;
9 – Masoquismo: excitação sexual por meio da própria dor;
10 – Sadismo: excitação sexual com a dor e o sofrimento alheios;
11 – Menofilia: excitação sexual por mulheres menstruadas;
12 – Nanofilia: atração sexual por anões;
13 – Urofilia: excitação sexual em urinar em outra pessoa ou receber sua urina;
14 – Zoofilia: atração ou envolvimento sexual com animais.

Extraído do livro "O Prêmio do Amor".



[1] MARZANO, Celso. O prazer secreto. Editora Eden. Curitiba, 2008, p. 24.

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