quinta-feira, 6 de junho de 2013

Família Tradicional: a falácia evangélica

      



Ontem, Brasília foi palco de uma grande manifestação “a favor” da liberdade de expressão, da vida e da família tradicional. Liderada pelo pastor Silas Malafaia, a concentração reuniu cerca de 40 mil pessoas, entre evangélicos, católicos e simpatizantes. Como em outros assuntos, o fundamentalismo religioso (re)produz pensamentos falaciosos que alienam e promovem retrocesso. Um desses pensamentos é a defesa do que eles chamam de “família tradicional”.


Segundo o pensamento evangélico (nem sempre bíblico), o único modelo de família é composto por pai, mãe e filhos. Acreditam que, com isso, estão de pleno acordo com o que diz a Bíblia. Acreditam, também, que, com a defesa da “família tradicional” não estão discriminando pessoas. Ledo engano!

Ao defender a família tradicional, os evangélicos acabam excluindo outras famílias. E não estou me referindo às famílias homoparentais ou homoafetivas. Refiro-me a toda constituição familiar que foge do modelo tradicional: casais sem filhos, mães ou pais sem cônjuge (famílias monoparentais), órfãos de pai, mãe ou de ambos; famílias cujos filhos sejam adotados; famílias formadas por avós e netos; formada por irmãos, enfim! Todo modelo familiar que foge ao modelo tradicional.

Ao defender o modelo tradicional, a igreja está dizendo às demais famílias: vocês não são família! Vocês estão indo contra aquilo que foi estabelecido por Deus para ser família! Não são dignos de serem assim chamados! É claro que a igreja não diz isso para essas famílias! Não diz diretamente, mas o fazem ao defender a “família tradicional” como único propósito de Deus para homens e mulheres. O pior é que as famílias diferentes que estão dentro dessas igrejas reproduzem o mesmo discurso que as exclui. Isso chama-se alienação religiosa. O alienado defende um discurso que a ele mesmo exclui mas ele não se dá conta disso. A verdade não aliena, mas liberta da alienação (João 8.32)

 O que Deus pensa sobre essa questão? Certamente Deus não pensa como essas lideranças alienadas e alienantes. Vamos exemplificar de maneira muito clara como Seu filho, Jesus Cristo, tratou as famílias diferentes.  Jesus definiu muito bem quem é sua família. E, pasmem! Ele não se referiu à sua família carnal, pois nem seus irmãos criam nele! (João 7.5) Segundo as palavras do Mestre, todos que fazem a vontade de Seu Pai são Sua família! Isso quer dizer que, com Jesus, eu sou família, você é família, desde que façamos sua vontade! (Confira Mateus 12.46-50)

Na cidade de Betânia, Jesus adotou uma família; e o mais interessante: não era uma família tradicional, mas uma família composta apenas por irmãos! Isso mesmo: Lázaro, Marta e Maria, uma família diferente, mas amada por Jesus (João 11.5). Por várias vezes o Mestre esteve ali e o fazia porque sabia que seria bem-vindo naquela família não tradicional! Ali Jesus foi hospedado (Lucas 10.38), adorado (João 12.3), celebrado (João 12.2). Ali Jesus operou milagres, manifestando a glória de Deus (João 11.44); ali, judeus creram nele (João 11.45); ali, o Mestre trouxe salvação! Aleluia!

Ter ou pertencer a uma família tradicional não é nenhuma garantia de que Jesus habite e opere nela. O Mestre faz morada em qualquer família, tradicional ou não, desde que esta O hospede, O adore, O celebre! Lázaro, Marta e Maria, uma família não tradicional que é modelo de família, a família que Jesus escolheu.

O que vai definir seu pensamento sobre família? As palavras e atitudes de Jesus ou dos fundamentalistas evangélicos? Que as palavras e atitudes do Mestre falem mais alto em sua vida!

Faço a vontade do Pai. Sou parte da família de Jesus e Ele é parte da minha família. Nem Silas Malafaia, Marco Feliciano ou qualquer outra criatura poderá mudar essa verdade, anunciada e firmada no Evangelho. 

Um comentário:

  1. Falou por mim, Pr. Alexandre! Obrigado.

    Nesses movimentos e em outros do mesmo naipe, o que me agrava ainda mais, são duas coisas.
    A primeira é a meneira estratégica com a qual os sagazes líderes evangélicos depositam o aborto e o casamento homoafetivo em uma mesma conta. Apartir disto, o fiel povão da igreja (nem sempre tão cristão) e aqueles que nem vivem uma cristandade nem vão à igreja mas a hipocrisia os ensinara a “se oporem ao mau”, saem pelas ruas, com um brado retumbante dizendo: “Salvem a família das terríveis garras de Satanás, da crueldade do aborto e do demônio do homessexualismo!”
    A segunda é como no mesmo pacote, eles incluem a liberdade de religião ou expressão religiosa. Nessa estratégia, o preconceito e a discriminação podem se camuflar em expressão de fé, preservando aos “cristãos”,o direito de apontar para alguém que é GLBT e dizer “se arrependam ou vão para inferno.” Imagine você com seu esposo (ou esposa, no caso das nossas irmãs lésbicas) e seu filho caminhando em um final de tarde, em uma pracinha, curtindo aquele dia em família e de repente aparece um “evangelista” querendo pregar a palavra e diz que você precisa se arrepender do teu “estilo de vida” ou vai para o inferno. Gente... Se alguém, hoje, fala isso pra mim mesmo na ausência do meu esposo e filho (ainda não tenho filho mas terei), eu vou precisaria estar como espírito MUITO bem alimentado para que a minha carne não fizesse bobagem. No meu tempo, evengelizar significava falar de Jesus e viver um bom testemunho. Mas me parece que hoje isso mudou um pouco. 'Evangelizar' tornou-se 'ter liberdade para condenar.'

    Hugs

    Jon

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