sexta-feira, 24 de maio de 2013

Seriam Homossexuais os “rapazes escandalosos”?

Baco: deus do vinho e da luxúria - pintura de Caravaggio
Ontem à noite fui até uma igreja e o pastor estava pregando sobre "os rapazes escandalosos" de 1ª Reis 14.24; 15.12. Ele se referia a este termo como se ele estivesse sendo usado pra designar os homossexuais. Gostaria que, se possível, você esclarecesse sobre este termo usado no texto. Desde já, agradeço. A paz! (Luis Felipe Sales)

                                                                                                                              Por Alexandre Feitosa

Não é novidade que a Bíblia tem sido utilizada como instrumento de acusação, exclusão, condenação e segregação, principalmente quando o assunto é homossexualidade. Dentre tantos textos bíblicos utilizados pelos fundamentalistas religiosos, há outros menos conhecidos, mas igualmente importantes nos estudos da Teologia Inclusiva. Um exemplo são alguns versículos do primeiro livro de Reis.

Alguns pregadores têm se utilizado da expressão “rapazes escandalosos” como uma referência aos homossexuais. Tal interpretação é subjetiva e carregada de preconceito, afinal, "escandalosos", para tais pregadores, é um adjetivo perfeito para traduzir sua visão acercas dos homens homossexuais. A expressão (presente apenas na versão Almeida e Corrigida - ARC) não é clara. Exatamente por isso, tem sido utilizada de forma inadequada por aqueles que desconhecem seu real significado. Qual era o pecado cometido por esses rapazes? O presente artigo pretende esclarecer a expressão, revelando que não há nenhuma conexão entre ela e a homossexualidade.

A ARC é uma tradução consagrada, principalmente nas igrejas pentecostais, como a Assembleia de Deus. Porém, um estudo comparativo entre traduções mais modernas e o exame do significado original hebraico são suficientes para esclarecer a má tradução da ARC e desfazer a interpretação tendenciosa.

Muitos anos foram necessários para que o termo fosse corretamente traduzido. A Versão Almeida Atualizada (ARA – cuja última revisão é de 1993) foi a primeira tradução protestante em língua portuguesa a corrigir a expressão em 1ª Reis. Tanto em 14.24 como em 15.12, o termo é traduzido como “prostitutos cultuais”. Essa tradução vem sendo seguida por outros trabalhos mais recentes. As palavras hebraicas originais são qedesha (feminino) e qedesh (masculino) e ambas estão presentes em Deuteronômio 23.17 e 18 como uma clara referência à prostituição ritual, comum entre os povos cananeus:

“Tais palavras, cujo significado original é “sagrado” ou “separado”, estão intimamente relacionadas a pessoas mantidas exclusivamente para algum serviço religioso e seus ritos, neste caso, pessoas destinadas à prostituição sagrada ou cultual.” (Bíblia e homossexualidade: verdade e mitos)

A palavra hebraica qedesh significa homem dedicado à idolatria promíscua que pratica a prostituição com o mesmo sexo.” (Bíblia de Estudo Dake – CPAD)

É bastante claro que tais homens se prostituíam com outros homens, entretanto, tal fato não prova nada acerca de orientação sexual, muito menos acerca da homoafetividade (relacionamento estável entre pessoas do mesmo sexo). A condenação refere-se a atos cometidos em contexto de idolatria Os textos revelam apenas que a prostituição ritual era uma prática do paganismo antigo e que tal prática desagradava a Deus. 

A Bíblia condena a prostituição em qualquer esfera. Quando ela faz referência às prostitutas cultuais (qedesha), não está condenando sua orientação heterossexual, mas a prática sexual idólatra. O mesmo vale para o termo qedesh (prostituto cultual). Enxergar homoafetividade nesses textos bíblicos exige um alto grau de desconhecimento sobre o contexto histórico e religioso do Antigo Testamento.

8 comentários:

  1. Amado Pastor, Gostaria de saber qual bíblia tem uma linguagem mais coerente e inclusiva. Me indicaram a bíblia a mensagem da editora vida. Gostaria da sua opinião.

    Em Cristo.


    Rafael

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    1. Caro irmão Rafael. Graça e paz!

      Bom, em nossos estudos comparativos com várias edições da Bíblia, temos percebido que a Bíblia de Jerusalém (que contém os livros deuterocanônicos) é a menos tendenciosa, entretanto, a ARA (Almeida Revista e Atualizada) é a versão que gosto de utilizar, pois, embora contenha certos erros de tradução, possui maior fidelidade com os originais e gosto de sua linguagem.

      Em breve pretendo lançar um trabalho somente acerca das traduções tendenciosas.

      Um abraço e volte sempre!

      Pr. Alexandre Feitosa

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  2. Gostei do Esclarecimento Pr. Alexandre Feitosa. Sou de sao luis maranhao eu frenquentava a Igreja IUV, hoje sou membro da ingreja Inclusiva nova vida. Uma igreja que eu creio abencoada por deus e foi na igreja a qual pertenco hoje que eu tive um verdadeiro encontro com Deus. E hoje muita coisa esta mudado em mim e ainda vai muda eu creio. Agradeco o esclarencimento Pr. Alexandre, agradeco tambem a deus pelos os meus Pastores Paulo Mendoça e Josue, sao umas bencoes em minha vida. Um grande abraco Pr. Alexandre.

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    1. Graça e paz, Renato.

      Seja bem-vindo ao nosso Blog!

      Que bom que gostou do artigo! Que Deus te use sempre mais na Nova Vida. Mande um abraço aos seus pastores, Paulo Mendonça e Josué, e também a toda a Igreja!

      Que Deus te abençoe.

      Abraços fraternos,

      Pr. Alexandre Feitosa

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  3. Olá, Pr. Alexandre.
    Que blog prazeroso de se ler! Sempre uma linguagem fácil e rica ao mesmo tempo.
    Na situação apresentada pelo Luis Felipe, me chama a atenção, a recorrência com que se confunde sexualidade, relacionamentos e atos sexuais. Vê-se uma passagem bíblica que cita um sitiação homoerótica (em contextos pecaminosos) e condenam-se indivíduos homoafetifos/sexuais.
    Tenho a impressão de que muitos não-inclusivos somente acreditam no que querem acreditar, apesar dos fatos, em relação a este assunto. Por ignorância ao que é a diversidade sexual, sentem medo do que seja uma sexualidade diferente da hétero, temendo que “a homossexualidade se torne tão normal que mais e mais crianças e jovens se tornarão gays.”
    Quando eu escuto este discurso, fico espantado ao quanto a pupolação ainda é ignorante em relação à sexualidade. Me sinto como se estivesse nos EUA há 50 anos atrás quando a população acreditava que negros não pediam se casar com brancos, pois “Deus havia criado raças differentes, sendo pecado a mistura delas.” Anyways...
    Um abraços e que nosso senhor Jesus continue te usanso “para a nossa alegria!” hehe
    Vlw!

    Jon

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  4. Alexandre, meu caro, não faça a Bíblia se encaixar na sua vida, faça a sua vida se encaixar nela.

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    1. Cara(o) irmã(o),

      Esse é o tipo de acusação que recebo com muita frequência. Por um lado fico feliz porque muitos cristãos convencionais têm lido meus artigos.

      Você me deu um conselho, se me permite, te darei um também:

      Leia meu último livro (Quem está manipulando a Bíblia?) e você entenderá quem está encaixando na Bíblia as próprias convicções. Antes disso, não me acuse sem o devido conhecimento.

      Deus te abençoe grandemente!

      No amor de Cristo,

      Pr. Alexandre Feitosa

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    2. Caro senhor, a BJC transcreve assim a leitura de I Reis 14.24: Nesses lugares, havia também o culto com prostituição, envolvendo homens e mulheres, que faziam todas as coisas abomináveis praticadas por outras nações e que Adonai tinha expulsado do meio do povo de Yisrael. Ora, os outros verrsículos dessa versão seguem no mesmo sentido do versículo inicial desse meu comentario. Sendo assim, o que me diz o prezado senhor Alexandxre Feitoza?

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