terça-feira, 10 de abril de 2012

Bissexualidade e Teologia Inclusiva



Por Alexandre Feitosa
Alguns assuntos são extremamente complexos para se analisar à luz da Teologia Inclusiva, dentre eles, temos a bissexualidade. A TI defende que a sexualidade humana, seja qual for sua orientação, pode ser exercida de acordo com os princípios bíblicos. Entretanto, muitas vezes, a TI tem sido encarada como uma ideologia permissiva, em que tudo é aceito. Outro dia, li uma matéria na internet sobre determinada igreja inclusiva cujo título era “A Igreja que pode tudo.” Não é bem assim. Quem acredita que a TI defende isso, está cometendo um equívoco, e dos grandes!

Se a Bíblia se cala com relação à homossexualidade, o que diremos sobre a bissexualidade? O mesmo, sem dúvida.

A bissexualidade figura como orientação sexual, assim como a heterossexualidade e a homossexualidade e, como estas, independe de escolhas. Entretanto, alguns mitos cercam esse tipo de orientação, ainda alvo de preconceito e discriminação, inclusive por parte de gays e lésbicas. Vistos como pessoas indecisas e emocionalmente instáveis, os bissexuais, muitas vezes, encontram-se deslocados em sua própria realidade afetivossexual. Um dos mitos que cerca as pessoas de orientação bissexual é associá-las à bigamia, ao relacionamento aberto e outras modalidades que se opõem à monogamia. Para alguns, pessoas bissexuais devem, obrigatoriamente, exercer plenamente sua orientação, necessitando, portanto, de um relacionamento bígamo, com um homem e com uma mulher. Mas a realidade não é bem essa. Sentir-se atraído por ambos os gêneros não significa que essa atração deve resultar em um relacionamento duplo. O mesmo princípio vale para pessoas de orientação homossexual ou heterossexual. Pertencer a uma determinada orientação não limita a atração afetivossexual a apenas uma pessoa. Relacionar-se com alguém, amar esse alguém, não extingue a atração por outras pessoas, e nem por isso, essa atração – componente natural da natureza humana – deve ser concretizada em forma de relacionamentos múltiplos.

Assim como ainda acontece com pessoas homossexuais, os bissexuais necessitam ser ouvidos e compreendidos em sua realidade afetiva. Não devem ser ignorados ou tratados em segundo plano pelas Igrejas Inclusivas e sua teologia. Se realmente lutamos por uma inclusão de fato, temos de dar igual atenção às diferentes orientações, do contrário, o alcance à diversidade, que tanto pregamos, será ineficaz e excludente!  Pessoas de orientação bissexual devem sentir-se representadas e parte do Corpo de Cristo, que é a Igreja.

Relacionamento aberto, bigamia ou adultério não refletem
 os princípios bíblicos, seja qual for a orientação sexual.
Sem dúvida, temos a tendência de repetir o que a igreja secular faz com os homossexuais: ignorá-los, seja por convicções teológicas, seja por ser uma minoria clandestina em seu seio. Comparo tal situação à Igreja Inclusiva com relação aos bissexuais e transgêneros (travestis e transexuais). Visto ser esse público uma minoria nas igrejas inclusivas, ainda é pouca a abordagem dada a ele. Este artigo pretende promover esse debate e evidenciar a importância em se contemplar, também, a minoria situada (deslocada?) entre a minoria. Afinal, isso é inclusão.

Como cristãos, precisamos entender que ter uma vida afetiva monogâmica independe de orientação sexual. Qualquer que seja ela, pode-se vivê-la responsável ou irresponsavelmente – em conformidade com os princípios bíblicos ou em desacordo com eles.

Tenho conversado com pessoas bissexuais a fim de entender melhor como sua sexualidade acontece. A maioria é unânime em afirmar que não há uma simultaneidade quando um bissexual ama, ou seja, o amor que resulta de um relacionamento é direcionado apenas a uma pessoa. A atração por ambos os gêneros não deixa de existir, cabe aos envolvidos – como ocorre com qualquer pessoa – viver a relação de maneira monogâmica e fiel. Tenho percebido também que a “necessidade” pelo outro gênero é suprida quando o relacionamento monogâmico é satisfatório.

Outro fenômeno bastante frequente entre pessoas de orientação bissexual é a chegada de um momento de estabilidade, que penderá para a heterossexualidade ou para a homossexualidade. Estudos indicam que a orientação sexual pode variar em diferentes gradações: há pessoas exclusivamente heterossexuais, exclusivamente homossexuais e pessoas que transitam entre ambos os pólos. Essa transição, entretanto, tende a estabilizar-se em determinado momento da vida ou permanecer inalterada.

Amar alguém e ser fiel a esse alguém não significa deixar de sentir-se atraído por outra pessoa. A questão aí é de postura do cônjuge bissexual. Se ele exerce simultaneamente sua atração, vivenciando um relacionamento bígamo, comete, à luz da Bíblia, o adultério. 

2 comentários:

  1. Acho de extrema inportância esse artigo, Pr. Alexandre.
    Há um tempo atrás, ouvi um podcast de uma preletora Americana - Peggy Campolo - no qual ela dizia algo basicamente assim:

    "A diferença dos nosso amigos bissexuais é que eles têm mais flores que nós, em seus jardins, para escolher. Mas no final, escolhem apenas uma."

    Abraço e tudo de bom!

    Jon

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  2. "Bi, poucos se falam sobre eles" essa foi a minha pergunta na sua palestra em Natal/RN, o homo sofre preconceito do hétero e o bi sofre preconceito dos dois, mediante a muitas críticas e até brincadeirinhas de mal gosto, a única coisa que dizia era: - eu quero alguém que me ame e me respeite independente de quem seja! sua palestra foi muito boa!

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